domingo, 22 de outubro de 2017

APS - Morfossintaxe da Língua Portuguesa

INTRODUÇÃO

Linguística é a área de estudo científico da linguagem. Se preocupa em investigar quais são os desdobramentos e nuances envolvidos na linguagem humana. A Linguística teve início com o Curso de Linguística Geral, do suíço Ferdinand de Saussure, e, assim, ganha um objeto específico: a língua.
Saussure inaugurou a Linguística com a Teoria Estruturalista. Esse primeiro paradigma da Linguística considera a língua como um conjunto estruturado, com a finalidade de definir os termos com base nas analogias. O método de análise estruturalista examina as relações e funções desses elementos considerando que não há fatos isolados e sim partes de um todo com alguma relação interna. A língua é um sistema que possui um conjunto de unidades organizadas que seguem determinados princípios. São elas:

Fonemas

Os fonemas são a menor unidade das palavras.


Morfemas

Os morfemas são a menor unidade provida de significado.

Como o foco de nossa pesquisa é o morfema, aprofundaremos melhor essa unidade da língua. 

Os morfemas são as unidades significativas mínimas da língua que, ao se unirem, compõem cada palavra. Os morfemas são compostos por:

1.Lexema:
Os morfemas lexicais (ou lexema) possuem significação externa, relacionam-se ao mundo extralinguístico, constituindo um conjunto aberto, no qual novos elementos podem ser acrescentados. Exemplo: flor, saudade.

Radical: constituinte que designa a ideia básica da palavra e, a partir do qual, novos vocábulos são formados. Exemplos: dúvida – duvidosa – indubitável

2.Gramema:
Os morfemas gramaticais (ou gramemas) são aqueles que possuem um significado interno à sua estrutura, ou seja, gramatical. Exemplo: -s é um morfema gramatical que, na língua portuguesa, traduz a noção de plural. Os morfemas gramaticais também podem ter a função de reunir, nas frases, as palavras constituintes. Exemplo: livro de leitura. Os gramemas são classificados como:

Derivacional - São os afixos, morfemas que se unem à base, por meio da qual novas palavras são formadas. Segmentam-se em:
a.      Prefixo - morfema que se posiciona a frente do radical. Exemplo: repensar, reavaliar, rememorar.
b.  Sufixo - morfema que se coloca após o radical. Exemplos: construção, manutenção, organização.

Classificatório - São as vogais temáticas. A vogal temática é o elemento que se junta ao radical e forma verbos e nomes. Nos verbos, distinguem-se três vogais temáticas: a (andar, amar, saltar), e (bater, entender, saber), i (sair, partir, unir). Já nos nomes, existem: a (cadeira, mesa, poltrona), e (estante, raquete, tapete), o (caderno, livro, bloco).

Relacional - A função desse tipo de morfema é ligar palavras. São exemplos de morfemas relacionais as preposições, as conjunções, os artigos e os pronomes relativos.
Exemplos: Café com leite; vinho de Portugal.

Flexional - São morfemas flexionais, ou seja, que flexionam as palavras em gênero, número, modo/tempo e pessoa/número. Esses morfemas são desinências gramaticais que podem ser inseridas ao lexema de cinco modos: aditivo, subtrativo, alternativo, morfema zero e alomorfe zero. Exemplos: Casas; meninas.

De forma simplificada, consideramos categoria morfológica a solução baseada em flexão, usada na língua para agregar traços específicos ao significado da palavra. Esses traços se distribuem de forma complementar, ou seja, quando um está presente, fica implícita a ausência do outro e todas as ocorrências possuem um dos traços possíveis.

Partindo dessa breve explicação, abordaremos o assunto a ser tratado aqui: a marcação dos pretéritos perfeito e imperfeito da língua portuguesa em conversas na Internet. Dentro da perspectiva da linguística estruturalista, observamos como interagem alguns usuários de redes sociais e aplicativos de mensagens instantâneas, como Facebook, Twitter e Whatsapp, especificamente no que tange ao uso de verbos no passado em suas mensagens de texto.

É possível verificar que, com o aumento das facilidades em relação à comunicação, as pessoas vão se adaptando às novas formas de transmitir e receber informações. As redes sociais e os aplicativos de mensagens instantâneas têm como principal função conectar as pessoas e, dessa forma, a comunicação passa a ser muito mais rápida e informal. Sendo assim, a modalidade oral da língua acaba influenciando demasiadamente na escrita, já que a intenção dos interlocutores, nesse contexto, é apenas enviar uma mensagem que possa ser compreendida, geralmente sem grandes preocupações com as regularidades da gramática normativa.

A partir dessa observação e dos estudos sobre os morfemas da língua portuguesa, faremos uma análise específica de alguns casos em que, por conta da influência oral, ocorre uma irregularidade na flexão dos verbos nos tempos verbais pretérito perfeito e pretérito imperfeito nas mensagens de texto via internet (por ser raramente utilizado em conversas informais, o pretérito mais-que-perfeito não será analisado aqui). Essas irregularidades acontecem como mostra o exemplo a seguir:

- Que horas a Mari chego ontem?
- 21:30.

No exemplo acima, é possível observar que, em vez de empregar a palavra “chegou”, a pessoa que escreveu a mensagem utilizou “chego” a fim de indicar uma ação feita no passado, mas, na verdade, essa é uma conjugação do presente do indicativo na primeira pessoa do singular. A mensagem pode ser perfeitamente compreendida no contexto em que está inserida, porém, o paradigma estruturalista da linguística nos possibilita análises morfológicas dessas situações, que serão feitas a seguir.


ANÁLISES


Para as análises que aqui serão feitas, é preciso focar nos morfemas gramaticais flexionais, apresentados brevemente na introdução. Esses morfemas servem para flexionar as palavras em modo/tempo, pessoa/número (verbos) e gênero e número (nomes); são as conjugações, como conhecemos. Os morfemas flexionais podem ser considerados cumulativos, pois, ao inseri-los no lexema, eles podem indicar mais de uma flexão.

Situação 1



No print acima, retirado de uma conversa do Whatsapp, há o uso da palavra “falo” para indicar uma ação no pretérito perfeito, na terceira pessoa do singular, que seria “falou”. Nesse caso, houve a supressão de um elemento: o morfema –u. Como dito antes, isso ocorre por conta da influência oral na hora da escrita.

Na situação:

FALO à FAL [lexema] + O [vogal temática]

Estrutura do verbo no pretérito perfeito:

FALOU à FAL [lexema] + O [vogal temática] + U [desinência de pessoa e número] 


Situação 2



Print retirado de uma postagem no Facebook. Na frase, pretende-se dizer “liberdade cantou” (faz referência a uma cena de novela, em que um personagem saiu da prisão), porém há uso da palavra "canto" para indicar o passado, também com a supressão do morfema –u, uma irregularidade.

Na situação:

CANTO à CANT [lexema] + O [vogal temática]

Estrutura do verbo no pretérito perfeiro:

CANTOU à CANT [lexema] + O [vogal temática] + [desinência de pessoa e número]

Situação 3

imagem retirada do google

Nesse print, há uma ocorrência bastante comum: muitas pessoas confundem, ao escrever, a conjugação do pretérito perfeito na terceira pessoa do plural com a conjugação do futuro do presente. A intenção de quem escreveu o post da imagem é dizer que entraram em sua casa e roubaram tudo, porém a desinência empregada indica futuro e, não, passado.

Na situação:

ENTRARÃO à ENTR [lexema] + A [vogal temática] + [desinência de modo e tempo] + O [desinência de pessoa e número]

ROUBARÃO à ROUB [lexema} + A [vogal temática] + [desinência de modo e tempo] + O [desinência de pessoa e número]

Estrutura dos verbos no pretérito perfeito:

ENTRARAM à ENTR [lexema] + A [vogal temática] + RA [desinência de modo e tempo] + M [desinência de pessoa e número]


ROUBARAM à ROUB [lexema] + A [vogal temática] + RA [desinência de modo e tempo] + M [desinência de pessoa e número]

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